Um grupo de cerca de 20 mulheres se reúne todas as sextas-feiras, às 9h, no Instituto Superior de Ciências da Saúde Carlos Chagas, na Lapa, região central do Rio de Janeiro, para aprender defesa pessoal e fortalecer a autoestima. As aulas, iniciadas em abril deste ano, fazem parte do projeto social Menina-Moça Mulher e são conduzidas pela psicanalista e instrutora Ana Paula Lino, de 44 anos.
Filha de vítima de violência doméstica, Ana Paula transformou a própria trajetória em incentivo para que outras mulheres ganhem confiança. Praticante de artes marciais desde os 15 anos, ela passou por judô, capoeira e kickboxing até se dedicar ao Muay Thai, modalidade que pratica há 14 anos. “Toda mulher deve conhecer técnicas de luta para identificar uma situação de perigo, agir rapidamente e escapar”, afirmou a professora.
As alunas têm perfis variados, mas muitas compartilham histórias de agressão. A autônoma Andressa Dias, 47 anos, frequentadora assídua das aulas, foi casada por duas décadas e relata episódios de violência física e psicológica durante o processo de separação. “Ele tentou me enforcar, quase quebrou meus dedos e me humilhava verbalmente. O Muay Thai serve de alerta e me dá ferramentas para reagir”, contou.
Tatiana Cristina da Silva, 49 anos, também chegou ao projeto após sofrer agressões de ex-companheiros. Embora já tivesse feito judô e capoeira, ela buscava novas técnicas. Hoje afirma sentir-se mais preparada para enfrentar potenciais ataques, inclusive em situações como assaltos.
O projeto Menina-Moça Mulher atende mulheres de 16 a 60 anos desde agosto de 2022. Nesse período realizou 805 oficinas de capacitação e geração de renda, beneficiando diretamente 2.668 participantes. Além das aulas de defesa pessoal para mulheres, o espaço oferece consultas de ginecologia, pediatria, psicologia e assistência social, além de mutirões para exames como mamografia e ultrassonografia.
As atividades ocorrem de segunda a sexta, das 8h às 16h, na Avenida Mem de Sá, 254, Lapa. Informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 99951-0407. O projeto destaca que não há cobrança de mensalidade e que as vagas são destinadas prioritariamente a mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica ou vítimas de violência doméstica.
Ao ensinar chutes, cotoveladas e técnicas de evasão, Ana Paula reforça que a iniciativa vai além do aspecto físico. Segundo ela, aprender a se defender gera senso de autonomia e contribui para romper ciclos de agressão. “Trabalho também a construção emocional; quando elas reconhecem a própria força, voltam para casa com mais segurança”, observou.
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