
Entidades da educação, famílias e docentes realizaram, nesta terça-feira (25), uma caminhada no Butantã, zona oeste da capital paulista, para condenar a presença de policiais militares armados na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Antônio Bento. O ato ocorreu 13 dias após quatro PMs entrarem na unidade, em 12 de novembro, chamados pelo pai de uma aluna incomodado com um desenho de Iansã exposto em atividade pedagógica.
Com cartazes que pediam “escola sem violência” e entoavam frases como “Onde houver intolerância, que haja mais educação”, o grupo percorreu as ruas próximas à creche. A mobilização foi articulada pelo Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Unidades de Educação Infantil (Sedin) e por coletivos antirracistas.
Segundo o relato de conselheiros, o pai — que também é policial — rasgou o desenho da filha um dia antes da chegada da patrulha e ignorou convites da equipe pedagógica para dialogar. Gisele Nery, integrante do conselho da escola, disse que o gesto “gerou desconforto nas crianças” e contou que a diretora, mulher negra, “foi ameaçada de prisão dentro do próprio local de trabalho”.
Durante a ocorrência, os quatro PMs permaneceram mais de uma hora no interior da Emei. Imagens das câmeras corporais estão sob análise da Corregedoria da Polícia Militar, informou a Secretaria de Segurança Pública. A professora responsável pela atividade registrou boletim de ocorrência contra o pai por ameaça.
Para a universitária Milena Leite, presente ao protesto, o episódio expõe intolerância religiosa no ambiente escolar. “Quando o tema envolve deuses africanos, a reação é violenta; se fosse representação grega ou cristã, dificilmente geraria esse conflito”, afirmou.
A direção da unidade declarou, em nota, que o conteúdo faz parte do currículo antirracista previsto pelo município e não se trata de doutrinação religiosa. O Ministério da Igualdade Racial reforçou que as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 obrigam o ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena nas escolas públicas e privadas.
Ao fim da manifestação, os organizadores reivindicaram a conclusão rápida da investigação interna na Polícia Militar, a garantia de proteção à equipe escolar e a implementação de políticas permanentes de combate à intolerância religiosa e ao racismo na rede municipal.

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