
Reduzir em 20% o consumo de álcool no Brasil poderia poupar cerca de 20 mil vidas por ano, revela relatório elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Vital Strategies e a ACT Promoção da Saúde. O estudo, que analisou dados de 2019, mostra que o país registrou 104.815 óbitos associados ao uso de bebidas alcoólicas naquele ano — média de 12 mortes por hora.
Segundo os pesquisadores, mais de 75% dessas mortes ocorreram entre homens, o que reforça a vulnerabilidade desse grupo. Além da perda de vidas, o impacto econômico estimado chegou a R$ 18,8 bilhões, valor que inclui gastos em saúde pública, previdência social e perda de produtividade.
Principais causas de morte relacionadas ao álcool
O levantamento aponta que doenças hepáticas, vários tipos de câncer, acidentes de trânsito e episódios de violência figuram entre os principais desfechos fatais ligados ao abuso de álcool. Nos quadros clínicos mais frequentes estão:
- Gastrite e outras inflamações do estômago;
- Hepatite alcoólica e cirrose;
- Pancreatite;
- Neurite e polineuropatia alcoólica;
- Cânceres de cavidade oral, esôfago, faringe e fígado;
- Transtornos mentais, incluindo depressão e psicose induzida.
“A redução populacional do consumo é a intervenção mais custo-efetiva para salvar vidas”, resume o relatório. Para a epidemiologista Verônica Kopschitz, uma das autoras, “cada ponto percentual a menos na ingestão de álcool representa centenas de vidas preservadas”.
Medidas recomendadas para conter o consumo
Entre as ações defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e citadas no estudo estão:
- Aumento da carga tributária sobre bebidas alcoólicas;
- Restrição ou proibição de publicidade e patrocínios;
- Limitação de pontos e horários de venda;
- Campanhas massivas de conscientização.
De acordo com o pesquisador Francisco Inácio Bastos, da Fiocruz, tais políticas “podem reduzir não apenas mortalidade e morbidade, mas também aliviar a pressão financeira sobre o sistema de saúde”.
Rede de apoio e tratamento
Pessoas que enfrentam problemas com álcool têm acesso gratuito a cuidados em Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Caps AD III e, em alguns estados, ao Centro de Referência Estadual em Álcool e Outras Drogas (CREAD). Há ainda grupos de mútua ajuda, como Alcoólicos Anônimos, Al-Anon e o Disque Saúde, pelo telefone 136.
O relatório conclui que a combinação de políticas públicas restritivas e oferta de tratamento pode representar um ponto de inflexão para reduzir mortes, doenças e custos sociais ligados ao álcool no Brasil.
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