
O protetor solar ocupa espaço central nas recomendações médicas de prevenção ao câncer de pele e ao envelhecimento precoce. Embora pareça apenas uma camada visível sobre a pele, a eficácia do produto depende de uma formulação que reúne compostos capazes de absorver, refletir ou dispersar a radiação ultravioleta (UV), reduzindo o impacto dos raios solares sobre as células cutâneas.
Dois grupos de filtros garantem a proteção
Segundo o químico industrial Ubiracir Fernandes Lima, membro do Conselho Federal de Química (CFQ), os ingredientes ativos presentes nas fórmulas se dividem em duas categorias. O primeiro grupo inclui substâncias como avobenzona e oxibenzona, responsáveis por capturar a energia ultravioleta e transformá-la em calor. Esse mecanismo caracteriza os chamados filtros químicos.
No segundo grupo estão compostos minerais, entre eles dióxido de titânio (TiO₂) e óxido de zinco (ZnO). Esses ingredientes formam uma barreira física que reflete ou dispersa a luz solar antes que alcance camadas mais profundas da pele, configurando os filtros físicos ou minerais.
“Os dois mecanismos são diferentes, mas ambos oferecem proteção eficaz quando o produto é aplicado de forma correta”, destaca Lima.
Impactos da radiação na pele
A exposição solar sem barreiras adequadas acelera a formação de rugas, promove manchas e aumenta o risco de tumores cutâneos. O dermatologista Reinaldo Tovo, do Hospital Sírio-Libanês, explica que os raios UV degradam fibras de colágeno e alteram a produção de melanina. “A pele tende a ficar mais manchada e envelhecida, e o risco de câncer é maior, especialmente em pessoas de pele clara”, afirma.
Entre 10h e 14h, período de maior intensidade de radiação, o cuidado deve ser redobrado. Contudo, a proteção não se limita a dias de sol intenso. Nuvens filtram apenas parte da radiação, permitindo que os raios continuem a atingir a superfície terrestre. Mesmo em ambientes fechados, intervalos de exposição ao ar livre justificam a reaplicação do protetor.
Critérios de segurança e eficácia
Antes de chegar às prateleiras, as fórmulas passam por uma série de testes definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entre eles estão ensaios de estabilidade, análises de validade e avaliações em voluntários para descartar riscos de irritação ou alergia. Simulações computacionais e estudos em cultura de células também integram o processo de verificação.
Os filtros precisam demonstrar capacidade de manter o fator de proteção solar (FPS) declarado durante todo o período de validade, além de resistir ao calor, à luz e ao contato com a água. A indústria utiliza metodologias padronizadas para comprovar que o produto continua eficaz após exposição prolongada a condições que simulam o uso real.
Formulações voltadas ao meio ambiente
Cresce o debate sobre o impacto ambiental de determinadas moléculas presentes em filtros químicos, especialmente em ecossistemas marinhos. Para reduzir potenciais danos, empresas investem em alternativas sustentáveis, como ampliar o uso de barreiras físicas à base de TiO₂ e ZnO, argilas minerais e extratos vegetais.
Essas matérias-primas apresentam menor risco de toxicidade para corais e organismos aquáticos, ao mesmo tempo em que mantêm o nível de proteção necessário ao ser humano. O desenvolvimento de embalagens recicláveis e processos produtivos com menor emissão de carbono também faz parte das estratégias adotadas pelo setor.
Ingredientes que somam benefícios à pele
Além dos filtros UV, muitos protetores recebem antioxidantes, vitaminas e agentes hidratantes que estabilizam a fórmula e oferecem vantagens adicionais. Substâncias como vitamina E, niacinamida e ácido hialurônico ajudam a neutralizar radicais livres, reduzir inflamações e manter a barreira cutânea íntegra.
Esses componentes não interferem no FPS, mas complementam a prevenção de danos oxidativos causados pela radiação, colaborando para a manutenção de uma pele mais saudável ao longo do tempo.
Orientações para aplicação adequada
A eficácia do protetor depende de quantidade e frequência de uso. Especialistas recomendam aplicar cerca de 2 mg de produto por centímetro quadrado de pele, o que corresponde, para adultos, a aproximadamente uma colher de chá cheia para o rosto e o pescoço, e uma colher de sopa para cada parte do corpo (braços, tronco, pernas).
O produto deve ser reaplicado a cada duas horas ou após sudorese intensa, mergulho ou secagem com toalha. Filtros com FPS 30 ou superior são indicados para a maioria das pessoas, mas indivíduos de pele muito clara, com histórico de câncer de pele ou sob uso de medicamentos fotossensibilizantes podem necessitar de fatores mais altos, conforme orientação dermatológica.
Uso diário como investimento em saúde
O hábito de aplicar protetor solar diariamente, independente da estação, contribui para reduzir de forma significativa a incidência de lesões actínicas e neoplasias cutâneas. A combinação de filtros químicos e físicos, reforçada por ingredientes antioxidantes, fornece barreira abrangente contra os diferentes comprimentos de onda emitidos pelo sol.
Com fórmulas cada vez mais estáveis e atentas ao impacto ambiental, o protetor solar mantém seu papel central não só na estética, mas, sobretudo, na proteção da saúde pública.
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