
A Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), terminou neste domingo (16) em Belém com um apelo do cacique Raoni Metuktire para que as mobilizações não parem. “Há muito tempo eu vinha alertando sobre a destruição do meio ambiente e, mais uma vez, peço que continuemos a defender a vida da Terra”, declarou a liderança indígena durante o ato de encerramento.
Após cinco dias de debates, marchas e atividades culturais, o encontro popular foi concluído com um banquetaço na Praça da República, onde cozinhas comunitárias distribuíram refeições ao público. Segundo a organização, cerca de 70 mil pessoas passaram pelo evento, considerado o principal espaço de participação social da conferência climática.
No encerramento, representantes de mais de 1,3 mil movimentos sociais leram uma carta que questiona o que chamam de “falsas soluções” para a emergência climática. O documento sustenta que o modelo de produção capitalista está na raiz da crise, aponta empresas transnacionais — de mineração, energia, agronegócio, armamentos e tecnologia — como responsáveis pela catástrofe ambiental e afirma que comunidades periféricas são as mais afetadas pelos eventos extremos.
Entre as reivindicações listadas estão a demarcação de terras indígenas, reforma agrária com incentivo à agroecologia, eliminação gradual dos combustíveis fósseis, financiamento público para uma transição justa — mediante taxação de grandes corporações e dos mais ricos — e maior participação popular nos fóruns decisórios sobre clima. O texto destaca ainda a necessidade de reconhecer saberes ancestrais na construção de políticas para conter o aquecimento global.
O documento foi entregue ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, que se comprometeu a apresentar as demandas nas reuniões ministeriais a partir desta segunda-feira (17). “Levarei a mensagem de vocês aos debates de alto nível”, disse o diplomata.

Em trechos dedicados aos conflitos armados, a carta condena o avanço da extrema direita, repudia o ataque israelense à Palestina e critica operações militares dos Estados Unidos no mar do Caribe, classificadas como ameaças à soberania de países da região e da África. O texto também expressa solidariedade a povos de Venezuela, Cuba, Haiti, República Democrática do Congo, entre outros.
Durante os cinco dias da Cúpula dos Povos, a programação incluiu a Marcha Mundial pelo Clima, que reuniu aproximadamente 70 mil manifestantes nas ruas de Belém, e uma barqueata pela Baía do Guajará em defesa da Amazônia. Grupos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, trabalhadores urbanos, mulheres, jovens e população LGBTQIAPN+ estiveram entre os participantes.
Os organizadores afirmam que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C, prevista no Acordo de Paris, está ameaçada pela “omissão” de governos, sobretudo de países ricos. Para eles, as conclusões da Cúpula dos Povos oferecem caminhos práticos baseados em cooperação internacional, justiça social e protagonismo das comunidades afetadas.

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