
O senador republicano Tom Cotton incluiu no Intelligence Authorization Act para o ano fiscal de 2026 um dispositivo que determina a investigação da investida chinesa no agronegócio brasileiro. O texto obriga a Agência Central de Inteligência (CIA) e a Agência de Segurança Nacional (NSA) a analisar como investimentos ou eventual controle de empresas chinesas podem afetar a cadeia de suprimentos, o mercado global e a segurança alimentar dos Estados Unidos.
Cotton preside a Comissão de Inteligência do Senado norte-americano, colegiado que aprovou o projeto. A proposta, relatada pelo próprio senador, seguirá para votação no plenário do Senado e, depois, para a Câmara dos Representantes. Se aprovada nas duas Casas, será encaminhada à sanção do presidente Donald Trump, que iniciou seu segundo mandato em janeiro.
De perfil conservador e eleito pelo estado do Arkansas, o parlamentar é um dos mais ativos críticos do Partido Comunista Chinês. Com ênfase em temas geopolíticos, tecnológicos e econômicos, Cotton sustenta que Pequim representa “a maior ameaça à liberdade no mundo contemporâneo”, argumento central de seu livro Seven Things You Can’t Say About China, publicado em fevereiro e incluído na lista de mais vendidos do New York Times.
Ao comentar a aprovação na comissão, Cotton afirmou: “Este projeto tornará as agências de inteligência mais transparentes e eficientes na tarefa de manter os Estados Unidos seguros”. A declaração resume a intenção do senador de ampliar o mapeamento da influência chinesa além das fronteiras norte-americanas, com ênfase no Brasil, principal fornecedor de soja e carne para a China.
Em entrevista à Fox News em abril de 2023, o republicano criticou a aproximação entre Brasília e Pequim, classificando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “crítico, senão abertamente hostil, aos Estados Unidos”. Segundo Cotton, a “fraqueza” da administração democrática anterior contribuiu para que países tradicionalmente aliados de Washington buscassem maior alinhamento com a China.
A iniciativa sobre o agronegócio brasileiro não é o único front da agenda anti-Pequim conduzida pelo senador. Em 2022, ele apresentou projeto proibindo membros do Partido Comunista Chinês de adquirir terras nos Estados Unidos, com o argumento de que a prática representa risco estratégico. A proposta não avançou, mas foi reapresentada em janeiro de 2025, expandindo a restrição a qualquer cidadão, empresa ou entidade chinesa e autorizando o Executivo a exigir a venda de imóveis já comprados caso haja ameaça à segurança nacional.
No Arkansas, estado natal de Cotton, legislação semelhante entrou em vigor em 2023. A norma veta a posse de imóveis, rurais ou urbanos, por empresas ligadas a governos classificados como “inimigos estrangeiros” pelos Estados Unidos. A governadora Sarah Huckabee Sanders, aliada do senador, sancionou o texto.

Imagem: Reprodução
Cotton também atua para conter a transferência de tecnologia sensível. Em maio, propôs mecanismos de rastreamento em chips de inteligência artificial exportados para evitar acesso não autorizado, “especialmente pela China”, conforme justificativa anexada ao projeto. No mês seguinte, enviou carta ao secretário de Defesa, Pete Hegseth, questionando a contratação, pela Microsoft, de engenheiros baseados na China para suporte de sistemas em nuvem do Pentágono. A manifestação levou o Departamento de Defesa a iniciar uma revisão emergencial de contratos e estimulou a Microsoft a substituir a equipe chinesa.
O senador manteve o tom crítico também em relação à fabricante de processadores Intel. Depois de a empresa anunciar o executivo chinês Lip-Bu Tan como novo CEO, Cotton destacou investimentos de Tan em companhias ligadas ao Exército de Libertação Popular e acusou a Intel de ignorar “riscos evidentes” à segurança nacional.
Antes de ingressar na política, Cotton formou-se em Direito pela Universidade Harvard, atuou como advogado e serviu como oficial do Exército no Afeganistão e no Iraque entre 2005 e 2009. Ele foi eleito para a Câmara dos Representantes em 2012 e chegou ao Senado dois anos depois, derrotando o democrata Mark Pryor. A experiência militar e a origem em uma fazenda de gado no condado de Yell são citadas pelo senador para justificar sua atenção à agricultura e à segurança nacional.
A preocupação de Washington com o papel chinês no campo brasileiro reflete o peso do Brasil na balança de commodities. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, o país sul-americano lidera as exportações globais de soja e possui crescente participação em carne bovina e milho, setores estratégicos para a alimentação de quase 1,4 bilhão de chineses. O relatório defendido por Cotton deverá avaliar se investimentos de empresas estatais ou privadas da China em terras, infraestrutura e trading houses no Brasil oferecem vantagens comerciais que impactem a competitividade norte-americana.
Além de mapear a presença de capitais chineses, a CIA e a NSA ficarão responsáveis por estimar consequências logísticas, como eventual redirecionamento de fluxos de commodities, e por analisar riscos de interrupção no abastecimento em cenários de tensão diplomática. O texto estabelece prazo de 180 dias, após a aprovação da lei, para entrega de relatório classificado ao Congresso.
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