
A prática de sextorsão digital vem ganhando espaço entre crimes virtuais e coloca adolescentes brasileiros em situação de vulnerabilidade, segundo especialistas em saúde sexual e segurança on-line.
A sextorsão ocorre quando o agressor ameaça divulgar imagens íntimas da vítima para obter vantagens financeiras, controle emocional ou ainda forçar novas práticas sexuais. O delito é classificado como abuso sexual baseado em imagens (ASBI), categoria que também inclui a coerção para o sexting, a criação de deepfakes e o envio não solicitado de fotos explícitas (cyberflashing).
Quem são os autores e como atuam
Os agressores variam de parceiros íntimos controladores a desconhecidos que se passam por pretendentes em redes sociais ou aplicativos de relacionamento. A aproximação costuma envolver conversas afetuosas e pedidos graduais de fotos ou vídeos. Quando o material é enviado, o autor começa a chantagem, exigindo dinheiro ou novos conteúdos para evitar a exposição pública.
Em muitos casos, o predador cria perfis falsos para atrair vítimas emocionalmente vulneráveis. Depois de estabelecer laços de confiança, conduz as conversas a canais privados e pressiona o envio de imagens íntimas. “A declaração de amor repentina e pedidos apressados de fotos são sinais de alerta”, alerta a ginecologista Lucia Alves S. Lara, vice-presidente da Comissão de Sexologia da Febrasgo.
Dados sobre vítimas adolescentes
Levantamento com 1.385 jovens indica que quase 60 % eram menores de idade quando sofreram sextorsão, e três em cada quatro conheciam o autor pessoalmente, muitas vezes como parceiro romântico. Entre os entrevistados, 75 % enviaram as imagens por vontade própria, mas 67 % relataram ter sido coagidos. Um terço recebeu ameaças de agressão física que se prolongaram por meses, enquanto metade permaneceu em silêncio, sem buscar ajuda de familiares ou autoridades.
Impactos à saúde
A pressão constante afeta diretamente a saúde mental dos adolescentes, com relatos de ansiedade, depressão e automutilação. Pesquisas citadas por organizações internacionais mostram que menores são mais propensos do que adultos a autolesões após episódios de sextorsão.
Prevenção e orientação
Especialistas recomendam ações combinadas para reduzir a exposição de adolescentes:
- Educação sexual que aborde segurança digital e consentimento;
- Monitoramento responsável dos conteúdos acessados por menores;
- Orientação sobre riscos de compartilhar imagens íntimas;
- Identificação de estratégias de manipulação on-line, como pedidos de passagem a chats privados ou de dinheiro;
- Uso de plataformas com recursos de privacidade reforçada;
- Adoção de canais formais de denúncia em casos de chantagem.
Para a médica Lucia Lara, a conversa aberta é o caminho mais eficaz: “É preciso ensinar o jovem a reconhecer a coerção antes que a troca de imagens aconteça”.
A Polícia Civil orienta que vítimas preservem provas, interrompam o contato com o agressor e registrem boletim de ocorrência. A lei brasileira prevê penas de um a cinco anos de reclusão para crimes de divulgação de imagens íntimas sem consentimento, agravadas quando envolvem menores.
Com o avanço das interações virtuais, autoridades reforçam que pais, escolas e plataformas digitais devem cooperar para frear o crescimento da sextorsão digital e proteger a saúde física, emocional e social dos adolescentes.
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