
A retirada da tarifa adicional de 10% sobre 238 itens brasileiros anunciada pelos Estados Unidos oferece alívio limitado, segundo entidades de exportadores. Para a maior parte dos setores, o ponto crítico continua a ser a sobretaxa de 40%, em vigor desde julho de 2023, que permanece aplicada à maioria dos produtos vendidos ao mercado norte-americano.
Ao todo, 80 mercadorias que o Brasil já comercializa com os EUA foram beneficiadas pela suspensão do encargo menor. Dessas, apenas quatro — três tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará — passam a entrar sem qualquer tarifa. Os demais 76, que incluem cafés não torrados, cortes de carne bovina, frutas e hortaliças, seguem sujeitos à tarifa de 40%.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informa que os 80 itens contemplados somaram US$ 4,6 bilhões em vendas para os EUA em 2024, o equivalente a 11% das exportações totais para aquele país. A entidade avalia que, sem a remoção da sobretaxa adicional, o Brasil segue em desvantagem frente a concorrentes que não enfrentam barreiras semelhantes. “É muito importante negociar o quanto antes um acordo para que o produto brasileiro volte a competir em condições melhores”, afirmou em nota o presidente da CNI, Ricardo Alban.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) classificou a decisão norte-americana como “um passo importante, mas ainda insuficiente”. Em comunicado, o presidente Flávio Roscoe destacou que itens relevantes para a pauta de exportação mineira, como carne bovina e café, continuam penalizados pelo encargo de 40%.
No setor de carnes, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) considerou positiva a redução, ao apontar que ela restaura parte da previsibilidade no comércio bilateral. A associação calcula que a tarifa efetiva para a carne bovina brasileira caiu de 76,4% para 66,4% com o fim do encargo de 10%. Antes da adoção das medidas pelo governo Donald Trump, a alíquota era de 26,4%.

Os cafeicultores demonstram cautela. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou que ainda aguarda esclarecimentos sobre o alcance da medida. Mesmo com a queda de 50% para 40% nas tarifas aplicadas ao grão brasileiro, a competição segue elevada, pois o café colombiano foi desonerado e o produto vietnamita paga tarifas quase nulas.
Durante agenda oficial, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reconheceu que o Brasil precisa de avanços adicionais para reduzir o diferencial competitivo: “O café também reduziu 10 pontos percentuais, mas tem concorrente que reduziu 20. Esse é o empenho que tem que ser feito agora para melhorar a competitividade”.
Representantes dos diferentes setores defendem que a diplomacia econômica brasileira intensifique as negociações com Washington para eliminar completamente a sobretaxa de 40%. Segundo eles, a medida é essencial para restaurar a competitividade dos produtos nacionais no maior mercado consumidor do mundo e garantir continuidade ao crescimento das exportações.

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