
O ex-policial militar Ronnie Lessa, condenado a 78 anos e nove meses de prisão pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, deixou a Penitenciária 1 de Tremembé, no interior paulista. A transferência para a recém-inaugurada Penitenciária IV do Distrito Federal ocorreu no sábado, 22 de novembro, após autorização do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A mudança foi solicitada quatro vezes pela defesa. O principal argumento era a suspeita de envenenamento: Lessa teria passado a sentir fortes mal-estares depois de consumir a alimentação fornecida pela unidade. Desde fevereiro, segundo os advogados, ele se recusava a comer a comida do presídio, limitando-se a biscoitos, pão e itens enviados pela família, o que resultou na perda de aproximadamente dez quilos.
Em petição encaminhada ao STF em maio, os defensores relataram que Lessa “considera a dieta imprópria para consumo” e que chegou a suspender um medicamento por desconfiar de contaminação, sem, entretanto, notar melhora nos sintomas. A direção da penitenciária abriu Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar uma suposta greve de fome, hipótese negada pelos advogados.
Outro ponto levantado pela defesa foi a segurança pessoal do detento. Embora o acordo de colaboração premiada homologado em março de 2024 previsse que ele ficasse em São Paulo, Lessa foi colocado na Penitenciária 1, destinada a presos comuns e integrantes de facções. Como ex-policial, temia represálias. O compromisso inicial indicava a Penitenciária 2 de Tremembé — conhecida por abrigar condenados de casos de grande repercussão —, mas a mudança não se concretizou.
A situação se agravou em 6 de fevereiro, quando representantes da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal realizaram inspeção na unidade por ordem de Moraes. A defesa afirma que, após a visita, o clima interno piorou e Lessa passou a relatar sintomas compatíveis com envenenamento. Em 29 de setembro, os advogados apresentaram notícia-crime à Polícia Federal relatando supostos delitos contra o preso; o conteúdo permanece em sigilo.
Analisado o pedido, Moraes autorizou a transferência para o Distrito Federal. A escolha da Penitenciária IV — considerada de alta segurança e inaugurada recentemente — atendeu a recomendações da Polícia Federal, que avaliou o local como mais adequado para proteger o colaborador da Justiça.
Lessa está preso desde 2019. Ao longo desse período, passou por unidades federais de segurança máxima em Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS). Em 2023 firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal, confessou ser o autor dos disparos contra Marielle Franco e apontou como supostos mandantes os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, além do ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa. O processo que apura eventual participação dos três ainda não tem data de julgamento.
A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo e o advogado Saulo Carvalho, que representa Lessa, foram procurados para comentar as suspeitas de envenenamento e eventuais crimes dentro da penitenciária, mas não se manifestaram até o momento.

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