Uruguaio denuncia empresas por uso de agrotóxicos que arrasam solo

O agricultor e pesquisador Marcelo Fossati, coordenador da Red Nacional de Semillas Nativas y Criollas, denunciou em Belém, durante a Cúpula dos Povos paralela à COP30, o impacto de décadas de aplicação de agrotóxicos no povoado de Tala, a 100 quilômetros de Montevidéu. Segundo ele, o cultivo de beterraba açucareira, introduzido na região nos anos 1960, exigiu altas doses de pesticidas e fertilizantes químicos, provocando a degradação do solo, a contaminação de lençóis freáticos e problemas de saúde em trabalhadores rurais.

Fossati explica que a beterraba, planta típica de climas frios europeus, enfrentou pragas e doenças no Uruguai, levando as empresas responsáveis a intensificarem o uso de produtos químicos. “O agrotóxico destruiu a estrutura do solo, que hoje se comporta como areia”, relatou. Com a perda dos poros naturais, o terreno já não retém a água da chuva; a produção agrícola local depende, portanto, de irrigação artificial.

A rede liderada por Fossati reúne mais de 250 propriedades familiares e 350 produtores distribuídos por 14 departamentos uruguaios. O grupo trabalha para resgatar sementes crioulas e reduzir a dependência de insumos industriais. Entre os parceiros figuram a Rede Amigos da Terra Uruguai e a Faculdade de Agronomia da Universidade da República.

Mesmo após o fim das lavouras de beterraba, os efeitos ambientais e sociais permanecem. Erosão, perda da camada fértil e assoreamento de rios são recorrentes. Estudo realizado há sete anos em 76 escolas rurais constatou pesticidas em todas as amostras de água subterrânea analisadas.

Do ponto de vista sanitário, Fossati associa o histórico de exposição a agrotóxicos ao aumento de câncer de intestino, pele e esôfago, além de enfermidades respiratórias e dermatológicas. “Nos anos 1960 nos venderam que o veneno era inofensivo; agora vemos casos de câncer e problemas respiratórios”, afirmou.

O produtor responsabiliza empresas uruguaias compradas por multinacionais, citando Isusa e Proquimur. Segundo ele, as companhias mantêm marcas locais para afastar a repercussão negativa das controladoras internacionais quando ocorrem episódios de intoxicação em comunidades vizinhas às pulverizações.

Fossati também relaciona os pesticidas à crise climática. Ele destaca o alto consumo de energia na fabricação de moléculas sintéticas, no transporte de insumos e na aplicação em campo, além das emissões geradas no embarque de commodities, como a soja, para mercados distantes. O balanço energético desse modelo, segundo ele, é “altamente negativo”.

A denúncia integra a programação da Cúpula dos Povos na Universidade Federal do Pará, espaço que reúne movimentos sociais para discutir alternativas ao modelo agroindustrial dominante enquanto líderes mundiais se preparam para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.

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