
Pesquisas recentes em psiquiatria e psicologia clínica indicam que o excesso de tela – caracterizado por cliques constantes, notificações sucessivas e rolagens ininterruptas – interfere na produção de dopamina e cortisol, hormônios ligados à recompensa e ao estresse. Esse desequilíbrio bioquímico, segundo especialistas, compromete a percepção de fome, saciedade e bem-estar emocional.
O fenômeno é observado em diversos grupos profissionais que permanecem conectados durante boa parte do dia. A hiperestimulação digital mantém o cérebro em estado de alerta contínuo, reduzindo a capacidade de perceber sinais internos do corpo. Como consequência, alguns indivíduos comem além da necessidade em busca de alívio rápido, enquanto outros simplesmente ignoram refeições por estarem focados na tela.
Estudos apontam que, ao dividir a atenção entre o aparelho eletrônico e o prato, o cérebro demora mais a reconhecer texturas, sabores e o próprio ritmo da refeição. Esse atraso na liberação dos hormônios da saciedade favorece o consumo excessivo de alimentos sem que a pessoa sinta satisfação real, criando um ciclo de busca por gratificação semelhante ao observado no uso do próprio dispositivo eletrônico.
Para o nutrólogo Dr. Ordânio Almeida, a alimentação precisa recuperar o caráter de presença. “Comer diante de telas faz o corpo responder a estímulos externos, não às necessidades internas”, afirma o médico, que defende pequenas pausas diárias como estratégia terapêutica para reequilibrar o sistema nervoso.
Os dados também relacionam luz, som e emoções geradas pelo conteúdo digital à liberação de insulina, leptina e grelina, hormônios que regulam o metabolismo. A chamada medicina de precisão interpreta o apetite como linguagem neuroendócrina: a forma como a comida é consumida pode potencializar – ou inviabilizar – a absorção de nutrientes.
Desconectar-se durante as refeições ativa o sistema parassimpático, responsável pela regeneração do organismo, permitindo que o corpo processe melhor os alimentos. “Não existe alta performance sem pausa, nem saúde cerebral sem silêncio”, destaca Almeida.
Diante desse cenário, especialistas recomendam: desligar ou afastar dispositivos eletrônicos antes de comer; reservar tempo exclusivo para a refeição; observar cores, aromas e temperaturas dos alimentos; e manter um ambiente calmo. Segundo os pesquisadores, são ações simples que restabelecem a ponte entre mente e corpo, ajudando a prevenir distúrbios metabólicos associados ao uso intensivo de telas.

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