O presidente da China, Xi Jinping, apresentou nesta segunda-feira (1º) a Iniciativa de Governança Global (IGG) durante a cúpula “OCX Plus”, realizada em Tianjin, no norte do país. O encontro reuniu 20 chefes de Estado de nações não ocidentais, entre eles o russo Vladimir Putin e o indiano Narendra Modi, e foi encarado por analistas como um passo para estruturar uma nova ordem mundial fora da liderança ocidental.
Em seu discurso de abertura, Xi afirmou que a governança internacional “chegou a uma nova encruzilhada”, pressionada por “mentalidade de Guerra Fria, hegemonismo e protecionismo”. Para enfrentar esse cenário, propôs um modelo baseado em cinco princípios: igualdade soberana entre os Estados, respeito ao direito internacional, multilateralismo, abordagem centrada nas pessoas e adoção de medidas concretas.
“Devemos garantir que países, independentemente de tamanho ou riqueza, sejam participantes e beneficiários iguais na governança global”, declarou o líder chinês. A IGG foi apresentada no âmbito da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), bloco criado em 2001 que hoje conta com dez membros, dois observadores e 15 parceiros de diálogo.
A reunião ocorre em meio às disputas comerciais conduzidas pelos Estados Unidos, que elevaram tarifas contra rivais e aliados. Washington pressiona Nova Délhi a suspender a compra de petróleo russo, mas o governo indiano mantém as importações. Mesmo assim, Modi apareceu ao lado de Xi e Putin em um gesto de aproximação raramente visto desde 2018, último ano em que o premiê indiano visitara a China.
Além da proposta política, Xi anunciou um pacote de US$ 280 milhões em assistência a países da OCX e a oferta de um empréstimo adicional de 10 bilhões de yuans por meio dos bancos do bloco. A organização também formalizou projetos conjuntos em inteligência artificial, combate ao narcotráfico e energia verde.
Putin endossou a iniciativa chinesa. “A Rússia apoia a IGG e está preparada para iniciar discussões específicas sobre seu conteúdo”, disse o presidente, acrescentando que mais de uma dezena de países manifestou interesse em ingressar na OCX.
Modi agradeceu a hospitalidade chinesa e relatou, em rede social, ter discutido com Putin o aprofundamento da cooperação bilateral em comércio, fertilizantes, espaço e segurança, além da “solução pacífica” para o conflito na Ucrânia. Já Pequim classificou o diálogo sino-indiano como parte de um processo de “retorno a uma trajetória positiva”, citando a manutenção da estabilidade na fronteira e a retomada de voos diretos.
A cúpula precede o desfile militar que celebrará, na próxima quarta-feira (3), o 80º aniversário da vitória chinesa sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, cerca de 50 líderes estrangeiros são esperados para a cerimônia, que reforçará o simbolismo histórico usado por Xi ao defender a globalização “universalmente benéfica e inclusiva”.
A IGG soma-se a outros projetos chineses de alcance transnacional, como a Iniciativa Cinturão e Rota, e reforça a tentativa de Pequim de se posicionar como polo de governança global em parceria com Rússia, Índia e demais países da Eurásia.
Com a proposta, a China busca consolidar um mecanismo multilateral que rivalize com estruturas dominadas pelo Ocidente, reafirmando a necessidade de, nas palavras de Xi, “derrubar muros, não erguer novos”.
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