
Uma diretriz internacional divulgada em janeiro de 2025 na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology reformulou o conceito de obesidade e deslocou o objetivo terapêutico da simples perda de peso para o bem-estar geral e a qualidade de vida do paciente.
O documento, elaborado por um consenso global de especialistas, mantém o Índice de Massa Corporal (IMC) como ponto de partida, mas determina que o diagnóstico só seja confirmado após uma avaliação clínica mais ampla. Entram na análise a circunferência da cintura, a relação cintura-quadril, exames de composição corporal – como bioimpedância ou densitometria – e sinais de comprometimento funcional.
Obesidade pré-clínica e clínica
A nova classificação separa a condição em dois estágios. Na obesidade pré-clínica, existe excesso de gordura e risco aumentado de doença, porém ainda sem danos evidentes aos órgãos. Nesse cenário, mudanças no estilo de vida são a principal estratégia para impedir a evolução do quadro. Já a obesidade clínica é caracterizada por repercussões concretas do acúmulo de gordura em sistemas vitais, exigindo abordagem multidisciplinar que pode incluir medicamentos ou cirurgia bariátrica.
Mais do que números na balança
Segundo a diretriz, o método exclusivo pelo IMC pode classificar como obesas pessoas com muita massa muscular ou, ao contrário, subestimar indivíduos com acúmulo de gordura central. “A avaliação passa a olhar a funcionalidade do corpo, não apenas o peso”, explica o nutrólogo Dr. Ricardo Pacheco.
O texto também reforça que a obesidade é uma doença crônica, complexa e multifatorial, influenciada por fatores genéticos, metabólicos, ambientais e comportamentais. A mensagem central é reduzir o estigma associado ao excesso de peso e colocar o foco na saúde integral do paciente, incluindo autonomia nas atividades diárias e redução de riscos cardiovasculares e metabólicos.
Papel da Nutrologia
Reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, a Nutrologia ganha protagonismo ao oferecer acompanhamento individualizado capaz de combinar ajustes alimentares, orientação de atividade física e, quando necessário, prescrição de fármacos. “O resultado mais valioso é a melhora da qualidade de vida”, afirma Pacheco.
A diretriz conclui que o IMC continua útil na triagem populacional, mas a decisão terapêutica deve considerar parâmetros antropométricos, clínicos e de funcionalidade. Com abordagem baseada em evidências, a expectativa é controlar a doença, reduzir complicações associadas e ampliar o bem-estar dos pacientes.
Referência: Definition and diagnostic criteria of clinical obesity – The Lancet Diabetes & Endocrinology, janeiro de 2025.
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