
Grandes companhias norte-americanas estão acelerando o corte de gerentes e elevando rapidamente a proporção de funcionários por chefe, numa tentativa de enxugar hierarquias e ganhar agilidade operacional.
Levantamento da consultoria Gartner indica que, em 2017, havia um gerente para cada cinco empregados; em 2023, a relação média passou para um para 15 e continua subindo. O movimento atinge empresas de tecnologia, varejo, indústria farmacêutica e serviços financeiros.
Crescimento do número de subordinados diretos
O Google suprimiu 35% dos cargos de chefia de pequenas equipes após reestruturação interna. A Amazon declarou a investidores que pretende aumentar a proporção de funcionários por gerente. Intel eliminou metade dos níveis de gestão, Estée Lauder e Match Group dispensaram cerca de 20% dos supervisores, enquanto Citi, Bank of America e United Parcel Service também reduziram camadas administrativas.
Na farmacêutica Bayer, nos Estados Unidos, vários processos foram automatizados. A vice-presidente de marketing Lisa Perez passou a conduzir cerca de 24 subordinados diretos e reserva as sextas-feiras para sessões de coaching. “Se não acertarmos como líderes, seremos o obstáculo”, afirma a executiva.
Impacto no dia a dia das equipes
Com menos chefes, trabalhadores relatam que precisam destacar suas próprias conquistas, pois o gestor dispõe de pouco tempo para acompanhá-las. Segundo a pesquisa Gallup, menos da metade dos empregados diz entender claramente o que se espera deles, ante 56% no início de 2020.
Beth Steinberg, profissional de recursos humanos no Vale do Silício, observa que alguns gestores supervisionam 20 pessoas. “Eles não conseguem orientar e desenvolver essas carreiras; o foco vira apenas entregar trabalho”, resume.
Reorganização da Axon Enterprise
A fabricante de câmeras corporais e tasers reduziu o número de gerentes de 1.250 para 700. Antes, cada supervisor liderava em média quatro empregados; a meta atual é sete, podendo chegar a grupos maiores. “A pior coisa seria contratar mais chefes e ficar burocrático”, diz o presidente da companhia, Josh Isner.
Patrick Flynn, engenheiro de software sênior na Axon, integra uma equipe de seis colegas para um gerente, quase o dobro do registrado anteriormente. “Podemos nos autogerenciar; procuro o gestor só quando realmente preciso”, relata.
Menos camadas, maior autonomia
Para conselhos de administração e investidores, a redução de gerentes sinaliza eficiência. Ao cortar a chamada “potencial burocracia”, as companhias esperam acelerar decisões, economizar custos e dar mais autonomia aos profissionais de linha.
Entretanto, o novo modelo impõe desafios. Gerentes sobrecarregados adotam horários fixos para atendimentos, delegam distribuição de tarefas e recorrem a ferramentas de inteligência artificial para aprovar despesas ou monitorar metas. Apenas funcionários de alto desempenho tendem a prosperar nesse cenário, reforçando a importância de iniciativa e autogestão.
À medida que o corte de gerentes se expande, especialistas avaliam que a definição do papel da liderança corporativa entra em fase de revisão profunda, com foco em orientação estratégica em vez de supervisão cotidiana.

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