
Ampliar a diversidade de alimentos de origem vegetal nas refeições diárias pode diminuir a probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, indica pesquisa publicada em junho no International Journal of Epidemiology. O trabalho analisou dados da EPIC-InterAct, um grande estudo europeu que acompanhou 23.649 adultos por quase 10 anos.
Os autores, vinculados a universidades do Canadá, Alemanha, Itália, Espanha e outros países, verificaram que o consumo médio de quatro a cinco porções de vegetais por dia, alternando entre frutas, folhas, tubérculos e demais hortaliças, esteve associado a menor incidência do distúrbio metabólico. A mesma relação protetora foi observada para diferentes fontes de proteína vegetal, como leguminosas, castanhas e sementes.
Contexto global da doença
Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o mundo soma 589 milhões de adultos com a enfermidade crônica, caracterizada pela resistência à insulina e pelos altos níveis de glicose no sangue. No Brasil, o número supera 16 milhões de pessoas. A condição aumenta o risco de complicações cardiovasculares, renais e oculares, além de exigir tratamento medicamentoso contínuo e ajustes de estilo de vida.
Metodologia do estudo
Para avaliar o impacto da variedade alimentar, os pesquisadores recorreram a questionários de frequência alimentar aplicados no início do acompanhamento. Após quase uma década, cruzaram as informações com diagnósticos médicos de diabetes tipo 2. Mesmo reconhecendo limitações — principalmente a dependência de autorrelato —, os autores destacam que a associação se manteve significativa após o ajuste por idade, sexo, índice de massa corporal, nível de atividade física e ingestão energética total.
Por que mais opções vegetais ajudam
A endocrinologista Cláudia Schimidt, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que dietas ricas em vegetais fornecem fibras solúveis, capazes de retardar a absorção de carboidratos e estabilizar a glicemia. Além disso, costumam conter menores quantidades de gordura saturada, elemento que, em excesso, favorece a resistência à insulina. “Quanto mais colorido o prato, melhor”, resume a médica.
A nutricionista Maristela Strufaldi, da Sociedade Brasileira de Diabetes, ressalta que prevenção depende do padrão alimentar como um todo. “Não existe um alimento milagroso. A proteção ocorre pelo conjunto de escolhas saudáveis”, afirma.
Monotonia alimentar e industrializados
A padronização global dos hábitos alimentares, impulsionada por produtos industrializados, resulta em cardápios repetitivos. Esse cenário cria lacunas nutricionais e eleva a exposição a açúcares livres, sódio e gorduras menos favoráveis. O estudo reforça a necessidade de incluir uma diversidade maior de vegetais, estratégia que amplia a oferta de vitaminas, minerais e compostos antioxidantes de ação anti-inflamatória.
Dicas práticas para aumentar a diversidade
Especialistas recomendam planejamento antes mesmo das compras. A troca de uma verdura habitual por outra menos frequente é um primeiro passo. O Brasil oferece ampla biodiversidade, com frutas nativas, hortaliças regionais, castanhas e sementes que podem entrar no cardápio.
A sazonalidade também pesa: ao priorizar alimentos da época, o consumidor encontra produtos mais frescos, saborosos e, em geral, cultivados com menos insumos químicos. Além do benefício nutricional, adquirir itens de produtores locais reduz a distância percorrida até a mesa, diminuindo a emissão de poluentes.
Entre as orientações práticas citadas pelos profissionais estão:
- Revezar tipos de feijão — preto, carioca, vermelho ou rosinha — no lugar de repetir a mesma leguminosa.
- Misturar lentilha ou grão-de-bico ao arroz, criando novas combinações de proteínas vegetais.
- Adicionar castanhas, sementes de abóbora ou de girassol às saladas para ganhar textura e nutrientes.
- Temperar preparações com ervas frescas e especiarias em vez de recorrer sempre ao sal ou a molhos prontos.
Atividade física permanece essencial
A alimentação equilibrada integra um conjunto de medidas preventivas que inclui a prática regular de exercícios. A recomendação de referência é acumular 150 minutos semanais de atividade aeróbica de intensidade moderada. Exercícios auxiliam no controle de peso e melhoram a sensibilidade à insulina, reforçando a barreira contra o diabetes tipo 2.
Embora mais estudos sejam necessários para aprofundar mecanismos e confirmar resultados em outras populações, as evidências atuais sustentam que ampliar a variedade de vegetais e de proteínas de origem vegetal representa um passo concreto e acessível para conter o avanço da doença.
Faça um comentário